O gênero “survival horror” já é um velho conhecido dos velhos jogadores: após jogos de terror tímidos no Atari 2600 e no Nintendo NES, o gênero alcançou um novo patamar com “Alone in the Dark” (1992) e se popularizou de vez com o arrasa quarteirão “Resident Evil 1”, de Shinji Mikami (1996). O termo “survival horror”, inclusive, surgiu justamente no marketing de RE1 feito à época pela Capcom.

Após o sucesso de Resident Evil 1 (e do sucesso de Jill gritando JOSEEPH! na cena inicial), uma enxurrada de “jogos de terror” tomou conta dos videogames: jogos como “Silent Hill 1”, “Fatal Frame” e “Dino Crisis” surfaram na onda do horror de sobrevivência, apresentando nuances próprias e ajudando a difundir o gênero entre os jogadores, com bastante sucesso.

Resident Evil e Silent Hill: os maiores expoentes do survival horror nos anos 90

Os anos foram passando e o survival horror começou a tomar tiro pra tudo quanto era lado, afinal, jogos de ação e “FPS” passaram a tomar conta de todas as plataformas. O terror conseguia um destaque aqui e ali (franquia Dead Space manda um abraço) mas a maioria dos jogos não apresentava o mesmo fôlego e experiência dos games de terror clássicos.. até o “pai” do gênero se rendeu aos tiroteios frenéticos, cenas de ação a lá “Duro de Matar” e heróis bombados esmurradores de rochas (você sabe do que estou falando.. rs).

Foi então que, a partir de 2010, o survival horror foi reinventado (eu ouvi um Amém!?) com o lançamento de games como Amnesia: The Dark Descent, Outlast, e o jogo objeto de nossa análise, Alien: Isolation.

Desenvolvido pela Creative Assembly e publicado pela SEGA para PC, PS3, PS4, Xbox 360 e One em 2014, Alien: Isolation consegue reunir todos os elementos que caracterizam um jogo como “survivor horror” de uma maneira assustadoramente imersiva. Sabe aquele inimigo ferrado que te dá cagaço durante todo o jogo, aquela sensação de “se eu der um passo em falso, ferrou!” ou aqueles sustos dignos de gritinhos (pode admitir que você faz isso..) e pulos da cadeira? Então, tudo isso se encontra de forma harmoniosa em Alien: Isolation, exatamente as mesmas sensações que sentíamos ao abrir uma porta em Resident Evil 1, ou ao explorar ruas tomadas pela “neblina”, na noite de Silent Hill 1.

A trama de Alien: Isolation é bem simples: 15 anos após os eventos do primeiro filme, “Alien”, Amanda Ripley, filha de Ellen Ripley (protagonista do primeiro filme), é informada que a caixa-preta da nave onde sua mãe desapareceu foi recentemente localizada em Sevastopol, uma remota estação espacial. Ripley e sua equipe, então, tomam a pior decisão de suas vidas: viajam para Sevastopol e se deparam com um cenário assustador, onde tá todo mundo louco e matando todo mundo, andróides estão tocando o terror e, pra piorar, tem um alienígena solto na estação com um único objetivo: comer o seu %#.

Estação Espacial Sevastopol: a estação do terror.

Estruturado com gameplay em primeira pessoa, o jogo, sem querer querendo, homenageia os grandes nomes do survival horror clássico e moderno: o mapa de Sevastopol, por exemplo, é extenso e repleto de “files” (arquivos de áudio ou vídeo explicando detalhes da história), bem como de áreas que você só poderá acessar após obter a devida chave ou ferramenta, ou seja, você visita e revisita cenários o tempo todo, e lê/ouve arquivos diversas vezes, exatamente como nos Resident Evil clássicos.

Ao explorar a estação espacial, você vai se deparar basicamente com três tipos de inimigos: os humanos, que piraram na batatinha após o colapso da estação e metem bala sem dó em qualquer estrangeiro, os andróides, que são as formigas operárias da estação e adoram resolver problemas “amigavelmente” estraçalhando aqueles que entendem ser uma ameaça à Sevastopol, e o Alien que, basicamente, quer comer o seu %#.

Andróides: robôs perturbadores e ameaças constantes dentro de Sevastopol

No começo, só resta a Ripley se esconder dos inimigos, já que ela não possui nenhuma arma em seu inventário (Outlast segue esta linha), porém, à medida que Ripley avança em Sevastopol, ela encontra não só armas, mas também sinalizadores e manuais para confecção de dispositivos e bombas, que a auxiliarão em sua fuga da estação. Um dos pontos altos do game reside em saber usar de forma inteligente tais opções, afinal, se você optar por dar um tiro em um humano ou andróide, o barulho vai chamar a atenção do Alien, que é invencível e vai fazer você já sabe o que, caso te avistar. Jogar um sinalizador ou uma bomba de ruído para chamar no longe a atenção dos inimigos, passando agachadinho e travando as pregas por trás deles, é mais inteligente e eficaz; muitas vezes, o Alien é atraído pelo barulho e ele mesmo faz a festa nos inimigos.

Falando no Alien, ele é o elemento mais extraordinário de todo o jogo! Como ele é invencível (podendo apenas ser repelido momentaneamente com as armas adequadas), sua aparição sempre será uma ameaça real e um perigo de morte para o jogador. Contra ele, só vai restar se esconder! Você consegue “vê-lo” (e também os outros inimigos) através de um detector de movimentos, mas pior ainda é ouví-lo se esgueirar pelos dutos de ventilação, ou ouvir sua pisada pesada nas salas da estação. Sua inteligência artificial é incrivelmente apurada, e, ao menor barulho que seja, ele vai te caçar, vasculhando cada cantinho ou armário ou ambiente, como uma fera farejando sua presa, e mesmo escondido, ele ainda pode te encontrar, caso você se descuide. Ripley é perseguida pelo Alien durante 80% de todo o jogo, o que nos lembra um certo monS.T.tro que A.dora peR.S.eguir uma certa moça em um certo jogo survival horror clássico.

Os gráficos e a trilha sonora de Alien: Isolation ajudam a intensificar ainda mais a experiência survival horror. A ambientação do jogo é louvável e a imersão que isto proporciona, aliada à câmera em primeira pessoa, é total! Para um jogo de 2014, Alien: Isolation tem cenas em CG bem feitas e gráficos bem bonitos, e podemos notar isto na concepção de Sevastopol. A estação espacial é retratada no game com bastante veracidade e com ambientes bem detalhados (muitas vezes lembrando Dead Space), abusando do contraste de ambientes muito escuros e claustrofóbicos, com lugares amplos e bastante iluminados pelo planeta KG348, onde a estação orbita.

A concepção dos inimigos também se revela um acerto, em especial os andróides que são estranhamente perturbadores, e o próprio Alien, terrivelmente assustador como nos filmes. A trilha sonora é incrivelmente eficaz nos momentos de tensão, e sua total ausência em determinados momentos do jogo fazem dele ainda mais aterrorizante (imagina que delícia você numa estação espacial, sozinho, e não ouvindo nada além do Alien caminhando nos dutos de ventilação, querendo comer o se.. bom, só imagine..).

O mais interessante é que, apesar das diversas referências a várias obras consagradas do universo survival horror, Alien: Isolation não perde em momento algum a sua essência, ou padece em conflitos de personalidade: desde os primeiros minutos do jogo, você sente que está sim jogando um game da franquia Alien, e esta sensação só aumenta com o decorrer do jogo. Os detalhes da história nos files, a trilha sonora, as referências a personagens da franquia e, principalmente, a presença onipotente e onipresente do Alien em toda a duração do jogo fazem os velhos fãs da franquia se sentirem em casa, e deixa bem claro aos novatos que este é um game “Alien”.. mas com pitadas de Resident Evil, gotas de Dead Space, um pouquinho de Outlast, e por aí vai.

Os jogos da franquia Alien sempre tiveram espaço no mundo dos jogos e sofreram diversas evoluções ao longo do tempo (o GamerSpace escreveu sobre isso, confira aqui!), e em Alien: Isolation é seguro dizer que a franquia sofreu a maior evolução de todas! O jogo possui sim alguns defeitos, como a personalidade pouco trabalhada de alguns personagens e o pouco prático acesso ao menu principal, mas reúne elementos que fizeram bastante sucesso em expoentes do survival horror, e mais: o jogo desenvolveu uma das melhores campanhas de terror dos últimos anos, fazendo escola e se tornando inspiração certeira para produções futuras.

Alien: Isolation traz ainda toda a beleza e peculiaridade da franquia dos cinemas, ou seja, as qualidades do jogo são muito maiores e mais marcantes que seus pequenos defeitos, o que faz dele uma experiência inesquecível, aterrorizante, e apaixonante para todos os amantes do gênero!

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